Os estúdios da Arte Total estão situados no Mercado Cultural do Carandá, projecto do Arquitecto Eduardo Souto de Moura. Este espaço funciona como Dance Venue da cidade de Braga, onde se realizam aulas, workshops, residências artísticas, performances e exposições.
Este projecto é resultado da reconversão e adaptação do antigo mercado municipal de Braga (projecto do mesmo arquitecto). O edifício do antigo Mercado tinha como características principais a clareza e a força enquanto elemento urbano demarcador, articulando um modelo clássico e um mecanismo compositivo moderno. A certa altura, a função para a qual foi desenhado originalmente revelou-se incapaz de exercer atratividade suficiente sobre o setor comercial da cidade.
Apesar do estado deteriorado, o Mercado não perdeu a sua projeção a nível internacional. O reconhecimento conquistado, enquanto obra de referência arquitetónica, levou a Câmara Municipal a repensar a possibilidade de demolição, solução defendida inicialmente pelo próprio autor quando confrontado com o estado de crescente decadência em que o edifício se encontrava.
Reaproveitado e revalorizado pela própria população, inconscientemente, verificou-se que o espaço do mercado funcionava de facto como “ponte” entre duas áreas da cidade, ou seja, que a sua função de conector prevalecia.É nesta perspetiva que Eduardo Souto de Moura aceita conceber a reconversão do Mercado de Braga: da mesma forma que, no primeiro projeto, (1980-1984), a memória da quinta influenciou diretamente a opção projetada, também na intervenção seguinte (1997-2001), a preexistência servirá como matéria disponível física e processualmente. Contudo, esta preexistência terá uma particularidade interessante – é uma obra sua. Para além da preexistência, Eduardo Souto de Moura teve também em consideração, para a reformulação do seu projeto, o programa para a construção de várias escolas que se iniciava na zona do Carandá. A reconversão de uso apareceu, assim, como forma de revitalizar este ponto obsoleto da malha da cidade, preservando simultaneamente a memória do que já ali estava.
Eduardo Souto de Moura desconstruiu a sua obra original e deixou parte dela com o intuito de evocar sentimentos e de apelar à memória do lugar.
A ruína é, de certa forma, inventada e utilizada neste projeto como componente cénica, não decorrente da passagem do tempo e do abandono, mas sim de uma manipulação acentuada pela dramatização intencional.